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Encontro histórico entre gestores de recursos

  • Contador SC
  • 2 de dez. de 2020
  • 6 min de leitura

Atravessando o tempo e superando as barreiras da vida, eis que quatro grandes gestores de recursos se encontram para um bate-papo informal: Benjamin Graham (1894–1976), Warren Buffet (1930 -), George Soros (1930 -) e Peter Lynch (1944 -). Buffet logo se dirige a Graham e pergunta: “Como vai o Pai da Análise Fundamentalista?”. Graham rebate: “Como vai o único aluno na história que tirou a nota máxima (A+) em meu curso na Columbia University, que ministrava com também lendário David Dodd, com que escrevi meu primeiro livro Security Analysis?”.


George Soros interrompe e lembra do seu passado: “Tive uma infância difícil, nasci na Hungria e na Segunda Guerra minha família judia foi perseguida pelos nazistas. Fui obrigado a mudar meu sobrenome de Schwartz para Soros (um palíndromo – é o mesmo nome de trás para frente). Em 1947, finalmente, consegui emigrar para a Inglaterra, aonde me formei na London School of Economics aos 22 anos. Me sustentava como porteiro de uma estação de trem e garçom, em um restaurante.”. Warren Buffet coloca: “Tive uma infância e adolescência típica da classe média norte-americana. Entre 13 e 20 anos, trabalhei como entregador de jornais e até no negócio de aluguel de máquinas de fliperamas, mas sempre sustentado pelos meus pais”


Ben Graham conta um pouco da sua história: “Nasci em Londres, emigrei para os Estados Unidos com 1 ano e tive uma infância difícil porque perdi o meu pai muito cedo. Formei-me na Columbia University com 20 anos e logo fui trabalhar em Wall Street”. Peter Lynch, em sua primeira intervenção, pergunta a Ben Graham: “E a crise de 1929?”. Graham responde: “Perdi tudo, minha esposa teve até que voltar a trabalhar. Mas talvez tenha sido a grande virada na minha vida – Em 1932, escrevi um famoso artigo – “As companhias americanas valem mais mortas do que vivas?” – onde argumentava que muitas ações de empresas nos EUA estavam sendo negociadas abaixo do seu caixa líquido”.


Soros entra na conversa: “Não queria ser gestor. Queria juntar dinheiro – US$ 500 mil me parecia suficiente – para ser filósofo e escritor. Criei a Teoria da Reflexividade que enunciava que a realidade dos mercados e as expectativas dos traders se afetam mutuamente, criando círculos viciosos ou virtuosos. Quem diria que eu, a mesma pessoa, tenha ficado conhecido como o homem que quebrou o Banco da Inglaterra, quando em 1992 apostei contra libra esterlina e ganhei US$ 1,1 bilhões”. Peter Lynch introduz conceitos de gestão: “Não é a cabeça, mas a resistência do estômago que vai definir o sucesso do gestor. O problema é que a maioria destes profissionais não sabe administrar os momentos de pânico”.


Quando chega o assunto diversificação x concentração de investimentos, o debate se acirra. O chamado Reitor da profissão de investimento, Ben Graham, sempre recomendou a diversificação, com uma frase que ficou famosa: “Comprar abaixo e vender acima do valor intrínseco de uma ação é a única forma de um retorno sustentável na carteira de ações a médio-longo prazo.” Já Warren Buffet prega exatamente o contrário, a concentração de investimentos e a compra de papéis de empresas já estabelecidas como a Coca Cola. Três perguntas devem ser respondidas afirmativamente para fazer parte do portfólio do guru: “A empresa obtém bons retornos em suas operações a partir do capital alocado? A empresa é comandada por líderes qualificados e honestos? A empresa está disponível em um preço justo?” A resposta negativa a essas perguntas fez com que Buffet não participasse da Bolha da Internet no final dos anos 90. Outro famoso gestor Philip Fischer também pregava a mesma cartilha, a ponto de Buffet afirmar: “Sou 85% Graham e 15% Fischer”. Soros também segue a cartilha da concentração, recomendando: “Quando houver convicção a respeito do investimento, monte grandes posições; se esta convicção for muito forte, opere com intensidade!” Já Peter Lynch é o mais radical defensor da diversificação, tendo comprado mais de 1.400 ações em sua carreira. Com o seu humor ácido, ele formulou uma famosa frase: “Se você adquire uma ação da IBM e os preços caem, o seu cliente questionaria: “O que há de errado com a IBM?”. Porém, se você aposta em um papel desconhecido e tem prejuízos, o mesmo investidor perguntaria: “O que há de errado com você?” Indo diametralmente contra Buffet: “As melhores ações para serem compradas normalmente encontram-se em setores chatos, com nomes mais chatos ainda e com o menor grau possível de cobertura de analistas”.


Ben Graham, que escreveu o livro “O investidor inteligente” (considerado por Buffet o melhor livro de investimentos já escrito) pede a palavra e solta alguns de seus preceitos : “ Mercado é o lugar onde grandes bull markets são seguidos por grandes bear markets” e “Mercado é lugar onde almoços, aparentemente grátis hoje, serão pagos pelo dobro do preço amanhã”. Já Peter Lynch, desafiando o establishment, critica os analistas de forma aberta: “Parem de escutar os analistas! Depois de 20 anos no negócio, estou convencido que qualquer pessoa, usando o bom senso e 3% de sua capacidade cerebral, pode escolher ações com a mesma competência de um mediano analista de Wall Street. As grandes ideias de compra de longo prazo surgem em experiências simples do dia a dia”. Regras de bolso ensinadas pelos dois gurus: Graham: “Compre ações cujo inverso do P/L seja maior que o dobro do ativo livre de risco”. Ou Lynch: “Compre ações com o PEG (relação entre P/L e crescimento) menor que 1”.


A grande curiosidade desse encontro é a coincidência de idades (90 anos) entre Buffet e Soros, sendo o segundo apenas 17 dias mais velho. Os dois seguiram caminhos diferentes na gestão de recursos, com genialidades distintas. Buffet, em junho de 2006, anunciou que doaria 85% de seu patrimônio, na época uma quantia equivalente a US$ 37,1 bilhões a cinco entidades assistenciais, ação que ficou conhecida como o maior ato de caridade da história. Ele disse que “deixaria para os filhos um valor para eles fazerem o que quisessem; e não um valor exagerado para eles não fazerem nada”. Já Soros destinou dinheiro a causas sociais – contra o apartheid na África do Sul e pela derrubada da Cortina de Ferro. Foi o maior opositor de George W. Bush, afirmando que “doaria toda a sua fortuna se lhe garantissem que com isso ele não seria reeleito”. É uma pessoa ambígua, porque criou o Instituto do Pensamento Econômico. Diz ele que “o objetivo da organização é a criação de teses que se contraponham à teoria liberal reinante nas escolas de Economia no século XXI”. No total, doou cerca de US$ 30 bilhões a essas causas libertárias.


Foi feita uma pergunta final: Vocês acreditam em fundos quantitativos? A resposta foi unânime: Não. Mas não há como não citar nesse texto sobre gestores Jim Simons, que gere seu fundo quantitativo chamado Medallion, que desde o seu início, em 1982, atinge um retorno médio anual de 45% ao ano, mesmo cobrando estratosféricos 5% de taxa de administração e 44% de taxa de performance.


Todo o brilhantismo dessa conversa está condensado na performance histórica dos fundos geridos por esses mestres Benjamin Graham (Fundo Graham-Newman – 15% a.a.), Warren Buffet (Berkshire Hataway – 20% a.a.). George Soros (Quantum Fund – 32% a.a.) e Peter Lynch (Fidelity Magellan Fund – 29% a.a.).


Fim de papo entre gênios. Esses grandes gestores de recursos voltam ao nosso imaginário, nos inspirando profissional e academicamente todos os dias.


ALEXANDRE PÓVOA

É economista pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), pós-graduado em Finanças pelo IBMEC e MBA pela Stern School of Business (New York University) – com bolsa de estudos do Banco Mundial –, atua em gestão de recursos há mais de trinta anos. Ex-atleta profissional de basquetebol, trabalhou em instituições renomadas como Banco Inter-Atlântico, Fundação Eletros e Banco Morgan Stanley Dean Witter. Exerceu o cargo de Diretor de Investimentos do ABN AMRO Asset Management no Brasil, onde os fundos de investimento se notabilizaram pela excelência de gestão. Posteriormente, juntou-se ao Grupo Modal, onde foi Diretor Superintendente. Também fundou a Canepa Asset Brasil com sócios estrangeiros, gestora de sucesso na qual se dedicou como CEO. Como economista e na área de gestão de recursos, é um dos profissionais mais reconhecidos do mercado, tendo sido eleito quatro vezes, em pesquisa promovida pela Revista Investidor Institucional, o “Melhor Gestor de Fundos do Brasil”, nos segmentos de renda variável e multimercados. Póvoa dedica-se a sua empresa Valorando Consultoria, prestando assessoria a empresas e investidores, além de ministrar cursos e palestras por todo o Brasil. É colunista de diversos jornais e revistas.


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