Melhores métricas para se analisar uma empresa
- Contador SC
- 3 de ago. de 2020
- 4 min de leitura
No Suno Call de hoje, abordarei algumas métricas que um investidor deveria analisar em uma empresa antes de investir. Tais métricas fazem parte da estratégia de um investidor britânico: Terry Smith, fundador do Fundsmith, sendo consideradas por ele as melhores para se analisar uma empresa.
Terry possui bons ensinamentos, e já foi até chamado por alguns de “Warren Buffett da Inglaterra”, uma vez que seu fundo vem performando com bons retornos desde sua concepção. Vale ressaltar que os bons resultados são graças a uma estratégia que é baseada naquela utilizada por Buffett.
Ao final, ficará nítido que podemos afirmar que tal estratégia se resume a comprar boas empresas, sem pagar muito por elas, ao mesmo tempo em que devem ser mantidas no portfólio para o longo prazo. Em outras palavras, trata-se do buy and hold.
A principal diferença na abordagem de investimentos de Terry Smith com relação a Warren Buffett é que o britânico pode entrar em investimentos de menor liquidez. Isso porque seu fundo gerencia um montante bem menor que o patrimônio da Berkshire Hathaway – que possui mais de US$ 100 bilhões em caixa.
E quais são as métricas que o Warren Buffett da Inglaterra utiliza? Falarei sobre cada uma delas a seguir.
#1 – ROCE (Return on Capital Employed)
Esta métrica, traduzida como retorno sobre o capital empregado é calculada por meio da divisão do EBIT pelo imobilizado somado ao capital de giro. Portanto, este indicador nos diz quanto de lucro operacional a empresa consegue ter, frente aos seus ativos tangíveis.
Apenas empresas que possuem um histórico excelente de alocação de capital possuem essa métrica num patamar interessante. Portanto, filtros que incluem um ROCE elevado tendem a nos mostrar empresas cuja gestão é responsável por realizar um bom trabalho de alocação de capital, o que é bastante desejável.
#2 – Margem Bruta
O segundo critério que Terry Smith observa em seus investimentos é a margem bruta. Para quem não se recorda, a margem bruta é o quanto sobra da receita – em termos percentuais – após pagar os custos de produção.
Por exemplo, se uma empresa fatura 100 reais vendendo seus produtos, que custam 35 reais para serem fabricados, sua margem bruta será de 65%.
Geralmente, empresas que possuem margem bruta elevada provavelmente se enquadram em algum dos dois casos: ou possuem algum tipo de poder de barganha perante o cliente, ou possuem uma estrutura de custos mais competitiva frente à sua concorrência.
#3 – Margem Operacional
O terceiro critério analisado pelo Warren Buffett da Inglaterra também é um indicador de margem, porém um pouco diferente da margem bruta. Nele, são incluídos gastos com administração e despesas de venda e marketing.
Geralmente, empresas que possuem uma margem operacional elevada são aquelas companhias que apresentam uma boa eficiência operacional, ou que possuem vantagens competitivas estruturais, capazes de garantir que elas exerçam preços acima de sua concorrência.
Amanhã, abordarei com detalhes as outras cinco métricas utilizadas por Terry Smith, o “Warren Buffett da Inglaterra”, na estratégia de investimentos de seu fundo. Tal método engloba indicadores interessantes, passíveis de serem utilizados por todo investidor.
Conforme prometido no Suno Call de ontem, darei continuidade à lista das melhores métricas para se analisar uma empresa, segundo Terry Smith, o “Warren Buffett da Inglaterra”.
#4 – Conversão em Caixa
Seguindo a contagem do artigo anterior, o quarto elemento observado por Terry Smith mede quanto do resultado se converte em caixa. Trata-se de uma métrica importante, pois, a partir dela, podemos saber se a empresa, de fato, consegue gerar caixa a partir das suas atividades.
#5 – Alavancagem Financeira
O Warren Buffett da Inglaterra busca empresas que não necessitem de muita alavancagem financeira para operar o dia a dia de seus negócios. Geralmente as empresas que se encaixam neste aspecto são aquelas que possuem um balanço mais enxuto, com menos dívida.
Geralmente, empresas na situação descrita são também mais saudáveis e menos arriscadas, uma vez que seu nível de dívida é menor.
#6 – Cobertura de Juros
Essa métrica utilizada por Terry talvez seja a menos conhecida dentre as citadas até o momento. Trata-se de um indicador que quantifica a parcela do lucro operacional que é direcionada para pagar as despesas com juros.
Em teoria, quanto menor a fatia do resultado que é gasta com juros, mais saudável é a empresa e mais dinheiro sobra aos seus acionistas.
Por fim, os próximos dois indicadores são mais voltados para o lado do valuation. Vale ressaltar que para Terry Smith o valuation também possui grande importância, não podendo ser esquecido.
#7 – Taxa de Crescimento do Fluxo de Caixa Livre
Geralmente, é verificado que quanto maior for esta taxa de crescimento, melhor é a situação de geração de caixa da companhia.
Evidentemente, Terry Smith também busca fazer algumas projeções a respeito dos números futuros das empresas, ao mesmo tempo em que olha também os números do passado.
#8 – Cash Flow Yield
Este último item é bastante relacionado ao valuation. O yield do fluxo de caixa é calculado ao se dividir o fluxo de caixa pelo valor de mercado.
Em teoria, quanto maior este número, mais barato o investidor estará pagando pelo fluxo de caixa da empresa.
Por exemplo: se a empresa tem um valor de mercado de R$ 10 bilhões, com um fluxo de caixa anual de R$ 1 bilhão, seu cash flow yield será de 10%. Por outro lado, se o fluxo de caixa da mesma empresa fosse de R$ 2 bilhões, seu cash flow yield seria de 20%. Isso significa que pagando o mesmo preço (valor de mercado), você estaria comprando um fluxo de caixa maior – o que é bastante interessante e desejado por todo investidor.
Por fim, encerrada a lista de métricas que Terry Smith analisa em seus investimentos, podemos observar que ele dá mais atenção aos indicadores de caixa, em detrimento dos indicadores contábeis, como o lucro líquido e o EBITDA, por exemplo.
Por outro lado, também é interessante notar – pelo número de métricas de cada tipo – que ele dá mais peso às qualidades do negócio do que ao valuation. Ainda assim, sabendo da importância do preço ao entrar em um investimento, o valuation não é, de forma alguma, ignorado.
Tiago Reis
Formado em administração de empresas pela FGV, com mais de 15 anos de experiência no mercado financeiro, foi sócio-fundador da Set Investimentos e é fundador da Suno Research.
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