A ciência contábil
- Contador SC
- 23 de fev. de 2021
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Resumo
O presente artigo abordará aspectos da ciência Contábil, de maneira sucinta e assimilável, para o alcance de todos, relatando e explicando brevemente, a sua história, fases e conquistas também explanando sobre os seus gênios, suas Doutrinas e sua qualidade Cientifica, além da sua imprescindível e profícua contribuição à Sociedade.
Palavras Chaves: Conhecimento, História Contábil, Doutrinas Contábeis, Ciência Contábil, Patrimonialismo, Neopatrimonialismo.
1 – O conhecimento e a verdade
O universo em sua incomensurável grandeza, sempre foi, e é, motivo de curiosidade e investigação aos olhos humanos que tentaram buscar a resposta de sua existência e a razão de seus fenômenos.
Isso que levou os primeiros filósofos a tecerem considerações sobre as origens, e as primeiras causas.
O fato maravilhoso, sempre despertou na mente humana os esforços para a sua explicação e entendimento.
Na tentativa de explicação dos fenômenos dessa realidade surge o conhecimento.
O conhecimento é a tentativa de explicar ou buscar a razão de alguma coisa ou de algum fenômeno tendo a verdade como seu principal objetivo.
A verdade tem muitas acepções, mas para nós ela é a relação exata de dois termos.
O sujeito que conhece, que tem a capacidade de raciocinar sobre um objeto, e o mesmo objeto que é conhecido.
Quando a relação é exata e correspondente, ela demonstra a verdade, este estado como igual à sinceridade, certeza, validade.
Ou seja, tudo aquilo que pode ser aceito com segurança é verdadeiro.
A verdade então não é apenas a relação de dois termos, mas a correspondência entre o que se faz de conhecimento sobre algo conhecido.
2 – Fases do conhecimento
Os grandes autores dividem o conhecimento em duas fases:
Empírica
Cientifica
Sabemos que em todos os ramos do saber, o conhecimento passou por uma fase inicial, de experimentação e de busca de raciocínios mais estáveis.
É uma fase a qual tudo era muito prático e só se tinha a observação.
O conhecimento empírico é aquele pragmático, entendido com vulgar, que não produz validade no tempo e no espaço.
É um tipo de conhecimento meramente simples, que não consegue encontrar a lei ou a constante dos fenômenos. Um tipo de conhecimento muito baixo e abaixo da capacidade de se produzir uma relação consistente, uma lei, ou mesmo uma teorização que seja dedutiva e válida no tempo e no espaço. Eis o que é o empirismo ou mero conhecimento vulgar. Muitas vezes rico em meros dados sem uma explicação e organização consistente.
Na fase empírica da Contabilidade, vemos a presença de um conhecimento parcial e frágil que não encontra a perfeição ideal, denotando um apego exagerado à forma e à prática.
Neste, a conceituação estaria muito ligada mais à posição das contas, ou na classificação de uma contabilidade apenas como informação.
O que faz o conhecimento empírico é dizer que a Contabilidade consiste em simples processo.
Entender vulgarmente a contabilidade, a coloca no campo apenas da ciência da computação, ou mero jornalismo, se informa e nada mais faz, apenas se pensa nas informações e não na explicação destas.
Dizer empírico e conceituar a Contabilidade como SISTEMA DE INFORMAÇÃO, é uma mesma coisa, são classificações mais baixas, ligadas apenas ao processo ou a mecânica de contas, e não necessariamente a uma ciência.
Claro que esta posição foi necessária, como é a um cientista do xadrez antes de imaginar o jogo como mero castelo ou baralho de cartas, que a qualquer vento se derruba tudo.
O conhecimento cientifico, por sua vez, penetra na essência do fenômeno, buscando suas condições, relações, descrições e explicações, com uma validade que ultrapassa o tempo e o espaço.
Tal qual um modelo cartesiano, o qual se tem uma seta para cima e outra para frente, assim é o conhecimento científico rumo ao infinito.
Tem ele uma meta que a parte fixa da ciência: o estudo do fenômeno.
Na contabilidade, o conhecimento científico tem como parte invariável o estudo do fenômeno patrimonial.
Todas as ciências passaram pela fase empírica (que se caracterizava por um apego a forma e a parte mecânica apenas), até conseguirem ostentar um conhecimento mais racional-explicativo como é o Cientifico, que em se tratando da Contabilidade seria marcante do século XIX em diante.
A riqueza sempre esteve presente na civilização (seja ela organizada ou não), inspirando em muitos a racionalização de seus fenômenos com suas causas e efeitos no mundo social.
Quando o homem utilizava coisas para a sua própria satisfação de necessidades, estava no campo da gestão da riqueza.
A riqueza é o uso de coisas para o bem do ser humano.
Portanto, dizer “rico” não é apenas auferir a quem tem muita riqueza, mas ao que a possui em algum grau notadamente (embora convencionalmente rico seja o afortunado, mas o termo é mais amplo que somente isto).
Na fase empírica da Contabilidade, temos registros contábeis de 27.000 atrás, em ossos e em cavernas, na época da pedra lascada, quando o homem procurava representar o objeto Contábil através da escrita.
No Egito antigo, a Contabilidade auxiliava a administração governamental em suas decisões.
Também na mesopotâmia, a escrita Contábil estaria presente devido ao alto nível de práticas comerciais, inclusive esta região estaria incluída no conjunto de regiões que praticavam fatos extraordinariamente contábeis, cujo apelido era “Fértil Crescente” (o nome era dado porque a zona de negociações estava muito embutida com uma rede que parecia uma lua crescente).
Temos traços Contábeis nítidos, na Grécia e Roma antiga na Gestão Pública.
Todos esses feitos e muitos mais pertencem à fase empírica da Contabilidade onde o ser humano não explicava consistentemente as relações e proporções do objeto, mas apenas informava o que se passava na riqueza.
3 – Prática empírica, fase da literatura e pré-científica da Contabilidade
A prática sobejada de representar a riqueza na sua quantidade e qualidade e não explicar os efeitos potenciais do objeto representou a fase empírica.
O homem sabia “o que” e “quanto” mais não sabia “o porque”, que aquilo acontecia na riqueza.
O homem, não distinguia a informação daquilo que ela demonstrava.
Por isso o Contador era representado pela figura do “escriba”, pois apenas registrava e produzia informação, contudo, sem explicar o que ela representava.
A explicação pertence à teoria, a descrição à mera robotização ou mecânica.
Embora não alcançasse o ápice do conhecimento, todos os esforços são louváveis, devido à tentativa da busca da verdade, que ocorre com o tempo e evolução do intelecto humano.
Na busca do raciocínio lógico e organizado da Contabilidade temos personagens de egrégio valor entre eles; Abdullah Ibn Mohammed ibn Kya al, Benedetto Cotrugli, Luca Pacioli, Domenico Manzoni, Ângelo Pietra, Giovanni Antonio Moschetti, Ludovico Fiori, Bastiano Venturi, Matthieu La Porte, Edmond Degranges, Giuseppe Bornaccini, Giuseppe Ludovico Crippa e muitos outros, que fazem parte dos períodos literário e pré-científico da contabilidade, pois na tentativa de explicar o objeto, se cerceavam mais na informação sobre este.
Todos este autores e muitos outros produziriam obras de valor com um singular teor cognitivo ultrapassando até o pensamento de sua época (que caminhava para o científico).
Para mestres como Abn Mohamed, Benedetto Cotrugli, Luca Pacioli, a Contabilidade era uma das mais renomadas artes que ajudava ao comércio pertencente às matemáticas.
Uma evolução pondera para autores como Domenico Manzoni, Ângelo Pietra, Giovanni Antonio Moschetti, Ludovico Fiori, Bastiano Venturi, Matthieu La Porte, Edmond Degranges, a Contabilidade é uma arte comercial, imprescindível e que faz demonstrar o patrimônio comercial e industrial. Chegando o último autor citado a fazer ainda uma teoria a das contas, elevando-a ao campo da ciência, mesmo no aspecto limitado contabilístico.
Os outros autores como Giuseppe Bornaccini e Giuseppe Ludovico Crippa classificam-na como uma ciência das contas, portanto, a Contabilidade, na partida dobrada, seria já uma ciência, todavia, do objeto de registro.
Todavia, o foco destes autores não deixou de ultrapassar as contas, mesmo quando tratavam da Contabilidade como ciência, ela era pertencente somente às informações, por isso, temos neste grau de visão a Contabilidade meramente como elemento pré-científico, isto é, sistema de informação.
4 – A fase científica da Contabilidade
A fase cientifica da Contabilidade inicia-se com R.P. Coffy (1834), francês pertencente à Academia de Ciências da França, que em sua obra definia a Contabilidade como a ciência da Riqueza organizada, ou a ciência do capital.
Já se apelava aí para se ter uma cadeira na academia para a Contabilidade, de modo que ela pertencia ao ramo das ciências econômicas.
Logo após este insigne autor temos Francesco Villa, contador Italiano residente da cidade de Milão que em 1840 lançava a obra “La contabilitá applicata alle administrazione private e publiche”, que recebeu honras Acadêmicas e premiações públicas.
O teor de sua obra procurava explicar os aspectos da Contabilidade definindo-a como ciência da riqueza que buscava a essência de seus fenômenos e não apenas a forma de representá-lo (informações contidas na conta e Demonstrações).
A obra de Francesco Villa (1840) marca a Contabilidade Cientifica (que só se limitava à informação), para a busca da substância do seu objeto.
Ou seja, a Contabilidade passa a ser o nome de ciência, sendo classificada como uma ciência da razão que administra a massa substancial da riqueza, isto é, o patrimônio.
Seguindo o parâmetro deste autor, diversos outros, demonstravam o seu pensamento cientifico entre eles; Francesco Marchi, Giuseppe Cerboni, Giovanni Rossi, Fábio Besta, Carlo Ghidiglia, Eugen Schmalenbach, Leo Gomberg, Alberto Ceccherelli, Gino Zappa, Pietro Onida e muitos outros que com seus gigantescos intelectos garantiram níveis de qualidade à Contabilidade.
Para Marchi, Cerboni e Rossi a Contabilidade era uma ciência social que estudava o patrimônio ligando-o a direitos e obrigações dos fatos econômicos e aziendais.
Para Besta ela era uma ciência da administração econômica, ou do controle econômico. O mesmo pensava Ghidiglia, e outros.
Eugen Schmalenbach imagina ela ser uma ciência do rédito. A qual teria este fenômeno como objeto em separado.
Leo Gomberg, Alberto Ceccherelli, Gino Zappa, e Pietro Onida, a pensam como uma parte da economia aziendal, ou seja, um processo de relevação mais simples, cuja ciência máxima das aziendas seria a parte maior, isto é, ela estaria como parte de uma economia que deveria dedicar-se à informação.
Só que a autonomia da Contabilidade só conseguiu ser feita pelo patrimonialismo
7 – O patrimonialismo na fase científica da Contabilidade
Na fase cientifica da Contabilidade, temos diversas doutrinas de valor, todas com aspectos diferentes, porém, tentando buscar a verdade sobre o objeto Contábil.
Basta lembrar que durante esta busca, a Contabilidade, foi severamente confundida e até mesmo mesclada com o Direito, Administração, Economia, Matemática e até com a informação na vetusta fase empírica.
O pensamento de Cerboni, Rossi e Marchi ligava a Contabilidade ao campo das ciências sociais e no do direito.
Foi importante tal pensamento porque nossa disciplina é social, todavia, não podemos estudar o ente econômico ou administrativo por si, muito menos a sua função de direito, porque pertence a outra ciência.
Mesmo nesta doutrina o pensamento contábil era muito volvido à parte contabilística surgindo as teorias das contas puras, ou do contabilismo puro, um tipo de CONTISMO RENOVADO.
Aqui tentaram voltar à ciência contábil o campo da matemática, mas não adiantou, se percebeu que isso seria simplesmente uma parte de sua disciplina e não o seu pensamento todo.
Os esforços da doutrina aziendal, aziendologia, ou aziendalismo focaram o pensamento contábil apenas na relevação ou no levantamento contabilístico, deixando-a no setor da informação, e não mesmo de uma ciência autônoma, ao mesmo tempo ligando-a a um tipo de economia, só que dá azienda.
Este pensamento poderia, como criou uma ciência muito mal formulada, todavia, não tinha a capacidade de destituir da Contabilidade o seu campo científico superior.
A doutrina que mais ganhou adeptos devido ao nível Epistemológico de seu teor, foi o Patrimonialismo de Vincenzo Masi, cuja primeira exposição de suas idéias foi em 1923 na Revista Italiana de Contabilidade.
Na verdade quando edita em 1926 a sua “Contabilidade Geral” e no ano seguinte a sua obra sobre “A Contabilidade como ciência do Patrimônio” faz pois toda uma defesa a favor do conhecimento contábil no campo patrimonial.
Sua descoberta revoluciona o mundo. E seu desenho teórico muda o grau da Contabilidade para uma ciência superior.
O mestre considerava a Contabilidade um setor científico autônomo que não se confundiria jamais com a parte informativa, muito menos com a aziendológica.
Ele define uma ciência das aziendas, muito diferente da Contabilidade, muito antes da Economia Aziendal.
Começa os seus esforços em torno de uma ciência das aziendas, e concebendo-a como um sistema de conhecimento, distingue inúmeras ciências como a Contabilidade entre elas notadamente.
Ela a coloca no posto do estudo dos FENÔMENOS PATRIMONIAIS.
Ele diz que a informação é apenas um método a favor do conhecimento dos fenômenos da estática e dinâmica patrimoniais.
Definindo e distinguindo o caráter metodológico, próprio da Ciência Contábil, junto com a sua parte fixa que é o fenômeno patrimonial, desenvolve o que conhecimento como conhecimento superior da Contabilidade nos dias atuais.
A Contabilidade desferiu sua real qualidade, através deste mestre que especificou o seu objeto, explicando os seus aspectos e Estruturas, os campos de observação e a análise dos seus efeitos no mundo social.
8 – A contabilidade como ciência
A riqueza, como já dissemos, sempre esteve presente nos empreendimentos humanos e foi o Patrimonialismo de Vincenzo Masi, aonde a contabilidade encontrou a sua maior dignidade, distinguindo dos pensamentos empíricos e dos outros ramos do saber humano.
A contabilidade possui todos os aspectos e requisitos de um conhecimento Cientifico e Superior, são os seguintes:
Possui objeto próprio;
Estuda o seu objeto analiticamente fornecendo explicações;
Possui método próprio de informação e investigação;
Produz teorias comprovadas e doutrinas sobre o seu objeto;
Presta utilidade ao homem e à sociedade;
Presta cooperação com as outras ciências;
Possui história e tradição;
Seu conhecimento evolui e está sujeito a evolução;
Busca a essência dos fenômenos;
Possui níveis cognitivos avançados como o conhecimento científico-filosófico;
Esta forma de teorização muito se parece com a do maior discípulo do mestre Masi, o professor Antonio Lopes de Sá.
No Brasil, a Doutrina Patrimonialista, desde o inicio do século passado até o presente momento, revelou vários adeptos dentre eles: Francisco D`auria, Frederico Herrmann Júnior, Hilário Franco, Antonio Lopes de Sá e muitos mais que em suas obras revelam a Contabilidade como a Ciência do Patrimônio.
Dentre os cientistas brasileiros possuímos um, que muito nos orgulha, não porque seja maior que os outros, mas por ser o criador de uma Doutrina Brasileira chamada Neopatrimonialismo.
Estamos falando de uma das maiores, senão a maior autoridade do mundo Contábil; o ilustre Dr. Antonio Lopes de Sá, mineiro de Belo Horizonte cujas obras revelam uma raríssima Cultura (muitas delas elogiadas até mesmo por Vincenzo Masi), sendo ele o pioneiro a escrever em nosso país, obras de Auditoria, Normas da Contabilidade e Contabilidade Gerencial.
Tamanha é a relevância e profundidade da Doutrina de Antonio Lopes de Sá, denominada Neopatrimonialismo, que possui alicerce nos grandes nomes da Contabilidade (como Vincenzo Masi, Giovanni Rossi e Alberto Ceccherelli).
O Neopatrimonialismo, busca a Essência da Essência do Patrimonialismo, quando revela as relações lógicas do Fenômeno Patrimonial.
Tudo o que relatamos e muito mais, só demonstra que o conhecimento Contábil avança célere, apoiado em Doutrinas de Valor cujos membros publicam diversos trabalhos de teor profundamente; científico-filosófico (basta citar as obras do próprio autor do Neopatrimonialismo Contábil publicadas recentemente; “Analise de Balanços e Modelos Científicos em Contabilidade”, “Analise Cientifica do Equilíbrio do Capital e Modelos Contábeis Qualitativos”, “Enfoques Essenciais na Análise do Equilíbrio das Empresas sob a Ótica do Neopatrimonialismo” e muitas outras).
A contabilidade é a ciência que demonstra seu magnânimo valor, com obras de conhecimento avançado e altamente superior, oferecendo a sua contribuição através dos homens que prometeram defendê-la, em prol da eficácia e prosperidade da riqueza organizada dos empreendimentos sociais, para a satisfação das necessidades do homem e da sociedade em que vive.
Por: Rodrigo Antonio Chaves
Fonte: Profrodrigochaves.com.br/
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